Quero
deixar claro, antes de começar, que minha intenção nesse post não é fazer uma
crítica direta a nenhum dos filmes citados no título, mas, sim, criticar o
comportamento preconceituoso de certas pessoas. Como isso aqui não é uma
revista imparcial, não vou evitar exprimir opiniões pessoais, mas quero frisar
que toda obra de arte tem seu encanto, por mais comercial que tenha se tornado.
Vamos
começar explicando o porquê desta crítica. Recentemente, eu assisti, pela
primeira vez, ao filme “O Estranho Mundo de Jack” (ou, originalmente, como eu
prefiro chamá-lo, “The Nightmare Before Christmas”, que significa “O pesadelo
antes do Natal”, título perfeitamente traduzível e revoltantemente perdido).
Sim, é um filme antigo (da década de 90, para ser mais exata) e eu sei que já
devia tê-lo visto antes, podem me chamar de atrasada. Na verdade, faz um tempo
que eu venho tentando assisti-lo, mas não o encontrei na locadora da cidade.
Então, assisti online. O fiz totalmente em inglês, o que me ajudou a perceber o
quão bom o filme é (pois as músicas estão em sua qualidade original). Sim, o
filme é muito bom, e não só pela sua qualidade de animação, nem pelas músicas
(lindas, por sinal) que o recheiam, mas pela mensagem que ele passa. Quem já
viu o filme (espero) entenderá do que estou falando, mas, para quem não
assistiu, vou explicar (vou evitar spoillers, mas sugiro assistirem ao filme
antes de lerem isso):
Jack, ao
longo do filme, tenta trazer algo para sua cidade que seus habitantes não
compreendem. Ele acaba cometendo um erro, mas não é intencional. O ponto aonde
quero chegar é: Jack, mesmo insatisfeito com sua situação atual, não foge dos
problemas, não se vitimiza (apesar de ter uma canção ou duas relativamente
dramáticas). Ele encontra algo que pode fazê-lo sentir melhor e tenta colocar
esse “algo” em prática. E mesmo quando não dá certo, ele tenta ver o lado bom
da coisa (depois de se culpar um pouco), lembra quem ele realmente é, e VOLTA PARA CONSERTAR A PRÓPRIA CAGADA.
Sim, eu grifei isso porque é importante. Não se esqueçam disso.
Agora,
recentemente, eu assistia a um vídeo no youtube de uma das músicas do filme, e
fui ler os comentários (um grande vício). Um deles comparava O Estranho Mundo de Jack com Frozen – Uma Aventura Congelante, coisa
que eu já havia feito internamente, pois estou ligeiramente revoltada com o
sucesso inexplicável do filme e, principalmente, de sua música com nada de
realmente especial, “Let it Go”. No comentário que eu li, a pessoa defendia O Estranho mundo de Jack, com o
argumento de que as músicas são muito melhores (argumento com o qual eu
concordo veementemente). Certo, não bastando ler os comentários, eu leio as
respostas deles. E uma delas dizia que O
Estranho Mundo de Jack daria pesadelos às crianças, e que o “Jack magrelo e
assustador” (traduzindo livremente o comentário em inglês) cantava muito para o
gosto da pessoa. E dizia que não era um grande fã de “espíritos” e que preferia
que seus filhos assistissem a Frozen
em vez de a esse filme. Nem preciso dizer o quão irritada fiquei. Bem, por uma
questão de gosto, esse comentário não me irritaria tanto, se o argumento usado
pela pessoa fosse apenas de que lhe agradava mais o filme Frozen, e não um preconceito explícito com filmes “fora do padrão”,
e com “espíritos”.
É aí que vem a questão: Frozen é um filme fofinho, com uma boa
qualidade de animação, etc, tem aquela mensagem no final do “ato de amor
verdadeiro” ser o amor fraternal (uma boa mensagem para as crianças), mas há a
personagem principal, que ficou como a “Diva” do filme, Elsa, cujo
comportamento na maior parte da história é bem covarde e adolescente, vamos
combinar. Ela fica a vida toda trancada no próprio quarto por medo de machucar
a irmã (de novo). Até aí é compreensível, mas, ao invés de aprender a controlar
seu poder e a usá-lo para o bem, ela apenas se faz de vítima. Se fossem apenas
um ou dois anos, seria compreensível, mas a
vida toda! Ela ficou trancada no
quarto a vida toda! E, depois, quando sua coroação vai para o brejo porque
ela não aprendeu a controlar os próprios poderes, ela foge covardemente,
deixando o reino um caos, nas mãos de pessoas não confiáveis, se isola nas
montanhas, e uma das frases da música que ela canta é “That perfect girl is
gone”, ou seja “Eu não sou mais aquela garota perfeita”, traduzindo o sentido
geral. Por que isso? Por que ela era vista como perfeita e responsável, e etc.,
mas desde quando ela era? Ficar trancada no quarto a vida toda é ser perfeita?
E se fosse, por que ser “perfeita” é ruim? É claro, não é bom ser vista como
algo que você não é, mas ser responsável
e dar o melhor de si nunca vai ser algo ruim. Ou seja, ela devia se
esforçar para ser melhor. E não se esconder e mandar a própria irmã embora
quando esta vai atrás dela. Agora, se lembram da frase sobre o Jack que eu
grifei no começo? Ele “VOLTA PARA
CONSERTAR A PRÓPRIA CAGADA”!! Exatamente o oposto do que a Elsa faz!
Entendem? E também, eu disse antes que ele SE CULPA antes de ficar otimista de
novo. Mas, vejam bem, a culpa não foi só dele. Ele avisou aos amigos como
proceder corretamente (não vou dizer em que, para evitar spoillers, então
assistam ao filme), mas mesmo assim não ficou reclamando coisas do tipo “Por
que eles fizeram isso?”. Na verdade, algumas frases que ele canta são “O que
foi que eu fiz? Como pude ser tão cego? Estraguei tudo!”. E a Elsa, ao invés de
reconhecer que não pôde controlar as próprias habilidades em, vamos chutar,
doze anos, se sente oprimida, o que se evidencia em frases da música como
“Can’t hold me back anymore” (não podem mais me controlar). Do tipo: “minha
filha, ninguém estava te controlando, você é que deveria controlar a si mesma”.
Compreendem? Em matéria de moralidade e ética, eu preferiria mil vezes que meus
filhos (futuros) assistissem a’O
Estranho Mundo de Jack! E daí que ele é uma caveira? Caveiras só assustarão
seus filhos se você educá-los com a ideia de que elas são assustadoras! E isso
me lembra de mais um ponto positivo em relação ao filme:
Os heróis
da história são incomuns! Jack é uma caveira, Sally é uma boneca de trapos, mas
eles são criaturas boas, só querem o melhor! É uma quebra do paradigma de
príncipes bonitões e princesinhas frágeis (por sinal, Sally é a criatura mais
sensata do filme. Está longe de ser uma mocinha indefesa)
Em relação
a esse filme, eu só tenho mais uma coisa a dizer: PARABÉNS, TIM BURTON!!
Espero que
todos tenham entendido aonde eu quis chegar com esse texto. NÃO ESTOU PEDINDO A NINGUÉM PARA PARAR DE
ASSISTIR A FROZEN! Mas, cuidado com os preconceitos e visões estereotipadas
que passam aos seus filhos, principalmente. É bom para crianças conhecerem
coisas diferentes, e elas vão ser pessoas bem melhor-sucedidas se não encararem
a morte, por exemplo, como algo necessariamente assustador e deprimente (por
isso recomendo, também, o filme “A Noiva Cadáver”).
Obrigada
por lerem esse post, e se sintam livres para expressarem suas opiniões nos
comentários (por favor, evitem falta de respeito).